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A filariose por Wuchereria bancrofti é o único tipo de filariose linfática presente na Região das Américas. A infecção é transmitida por mosquitos infectados e está associada a sintomas agudos e crônicos que podem provocar deformidades e, por consequência, exclusão social e estigma.
Nas Américas, foram adotadas medidas para eliminar a filariose linfática como um problema de saúde pública, nas quais, o elemento principal da estratégia é a distribuição massiva e de dois medicamentos anti-helmínticos, dietilcarbamazina e albendazol (DA), para todas as pessoas que moram em áreas endêmicas durante 5 anos, ou três medicamentos, ivermectina, dietilcarbamazina e albendazol (IDA), durante 2 anos.
- A filariose linfática, geralmente conhecida como elefantíase, é uma infecção humana causada pela transmissão de parasitas (denominados filárias) por mosquitos, entre eles os do gênero Culex, que está amplamente disseminado em áreas urbanas e semiurbanas.
- Ao picare uma pessoa infectada e ingerirem seu sangue, o mosquito infectado por microfilárias, que amadurecem dentro do mosquito e se transformam em larvas infectantes. Quando o mosquitos infectado pica uma pessoa sadia, as larvas maduras do parasita são depositadas na pele, e partir daí podem entrar no organismo.
- A filariose linfática se apresenta nas formas assintomática, aguda e crônica. A maioria das infecções é assintomática e não apresenta sinais externos. Apesar disso, causam danos ao sistema linfático e aos rins e alteram o sistema imunológico. As manifestações dolorosas e desfigurantes da doença — linfedema, elefantíase e inflamação escrotal — surgem mais tarde e podem causar exclusão e estigma social. Isso resulta em perda de autoestima e diminuição das oportunidades de trabalho para as pessoas acometidas, o que afeta a situação econômica e social.
- A doença pode ser eliminada na Região das Américas com a administração massiva e simultânea de dois medicamentos anti-helmínticos em toda a população das áreas endêmicas por um período de 2 a 5 anos a depender do esquema de tratamento definido pelo país.
- Nos locais onde a doença é endêmica, recomenda-se o uso de mosquiteiros e telas nas janelas e portas das casas, a eliminação de criadouros de mosquitos e a aplicação de inseticida em latrinas abertas, bem como melhorias nas condições de saneamento básico.
A filariose linfática é uma parasitose causada por vermes (nematódeos). Esses vermes podem acarretar uma alteração do sistema linfático e, em longo prazo, provocar linfedema crônico, aumento anormal das partes do corpo, dor, incapacidade grave, estigma e exclusão social.
Na Região das Américas, Wuchereria bancrofti é a única espécie transmitida por mosquitos do gênero Culex (principalmente C. quinquefasciatus), que são os vetores mais comuns. No hospedeiro humano, os vermes adultos têm cor esbranquiçada ou rosada, são delgados (1,5 a 2,5 mm) e podem chegar a um metro de comprimento.
Somente três países são endêmicos para a filariose linfática no continente americano:
- República Dominicana
- Guiana
- Haiti
Estima-se que até 12,6 milhões de pessoas estejam em risco de contrair a infecção.
O Brasil recebeu da OPAS/OMS a validação da eliminação da filariose linfática como problema de saúde pública em setembro de 2024, e Costa Rica, Suriname e Trinidad e Tobago foram retirados da lista de países endêmicos em 2011.
Para completar seu ciclo de vida, a espécie Wuchereria bancrofti necessita de um hospedeiro definitivo — no caso, humano, pois não há reservatórios animais importantes — e um vetor, Culex quinquefasciatus, principal responsável pela transmissão da filariose linfática na Região das Américas.
A filariose linfática é transmitida quando larvas de terceiro estádio (L3) são depositadas na pele por um mosquito vetor infectado que está se alimentando. Em seguida, as larvas penetram na pele através da picada, migram para o sistema linfático e, em cerca de um ano, amadurecem e se convertem em vermes adultos machos e fêmeas. As fêmeas adultas liberam as larvas (denominadas microfilárias), que acabam por migrar para a corrente sanguínea, alcançando concentrações máximas entre as 22h e as 2h (periodicidade noturna). A ingestão de microfilárias circulantes por outro mosquito vetor e seu desenvolvimento até se transformarem em larvas L3 completa o ciclo de vida do parasita e mantém a transmissão em áreas endêmicas.
A filariose linfática é caracterizada por uma evolução crônica, agravada progressivamente por episódios agudos com muitos sintomas. O período pré-patente (intervalo entre a entrada das larvas L3 e o aparecimento de microfilaremia detectável) pode durar vários meses. A presença de microfilárias no sangue pode ser assintomática. As manifestações clínicas, quando presentes, podem surgir desde alguns meses até vários anos após a infecção.
As manifestações clínicas geralmente são classificadas em duas fases, com os possíveis sinais e sintomas a seguir:
Aguda
- Episódios recorrentes de febre com inflamação dolorosa e aumento de volume dos linfonodos e dos ductos linfáticos.
- Acometimento do aparelho genital.
- Em pacientes do sexo masculino, é comum haver orquiepididimite (inflamação do testículo e do epidídimo) ou funiculite (inflamação do cordão espermático).
- Os ductos linfáticos afetados apresentam-se dilatados e com paredes espessas.
Essas “crises agudas” duram poucos dias e podem ser atribuídas a uma combinação de fatores, como a presença de vermes adultos vivos, morte de vermes (possivelmente complicada por infecção bacteriana), resposta imune aos antígenos das filárias ou microfilárias, etc.
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- Episódios repetidos de inflamação que podem acarretar uma obstrução progressiva dos ductos linfáticos, com acúmulo de líquido nos tecidos intersticiais e consequente linfedema, um problema que afeta com maior frequência os braços e as pernas.
- O aumento da fibrose e da esclerose dos tecidos subcutâneos pode acelerar a progressão do linfedema para a elefantíase (espessamento e endurecimento da prega cutânea, formação de nódulos na epiderme e alterações na pigmentação), que está associada ao aumento exagerado dos membros e à incapacidade.
- Em pacientes do sexo masculino, a obstrução dos vasos linfáticos espermáticos causa acúmulo de líquido no escroto (hidrocele).
- O estigma e a exclusão social são comuns entre esses pacientes.
Um quadro clínico sugestivo da doença e uma contagem elevada de eosinófilos podem orientar o diagnóstico. A técnica padrão mais usada é a identificação direta de microfilárias no esfregaço de gota espessa. A amostra de sangue deve ser coletada perto do horário de concentração máxima das microfilárias, a fim de aumentar a sensibilidade do teste.
Os testes imunocromatográficos FTS (sigla em inglês para Filariasis Test Strips [testes rápidos em fita para filariose]) detectam os antígenos das filárias no sangue coletado por punção digital. Esses testes independem da concentração de microfilárias e demonstraram ser sensíveis e específicos. Os testes imunocromatográficos em cartão (ICT) podem ser usados para mapeamento, vigilância e avaliação da transmissão da filariose linfática por meio de estudos de base comunitária.
- O tratamento preventivo baseia-se na associação de dois ou três medicamentos. A associação de três medicamentos (IDA) consiste em ivermectina 150 μg/kg, dietilcarbamazina (DEC) 6 mg/kg e albendazol (ALB) 400 mg em administração única. A associação de dois medicamentos contém apenas dietilcarbamazina (DEC) e albendazol (ALB).
- As duas associações são administradas uma vez por ano. A associação tripla (IDA) reduz o número de microfilárias no sangue muito mais rapidamente e por mais tempo que a dupla.
Essas associações de fármacos podem causar reações adversas leves e temporárias, mas geralmente são consideradas um tratamento muito seguro. - Os efeitos significativos dessas duas associações de medicamentos sobre a concentração de microfilárias no sangue (microfilaremia) são o motivo pelo qual a estratégia recomendada pela OMS para a eliminação da filariose linfática é a distribuição anual em grande escala (tratamento em massa) de uma dessas duas associações para todas as pessoas que moram em uma área onde haja transmissão de filariose linfática (microfilaremia igual ou superior a 1%). Com isso, espera-se que as taxas de transmissão diminuam. Quando se usa a associação tripla, são necessárias duas rodadas anuais para interromper a transmissão; já a associação dupla requer pelo menos cinco rodadas anuais de tratamento.
- A interrupção da transmissão pode ser acelerada com a aplicação adicional de medidas de controle dos mosquitos vetores.
- Em indivíduos que já desenvolveram manifestações crônicas, como linfedema e elefantíase, é necessário tratar os membros afetados para evitar maior deterioração da saúde. Entre as medidas recomendadas estão a elevação e lavagem do membro e o tratamento de infecções cutâneas. Essas medidas geralmente podem ser realizadas pelos próprios pacientes. Casos de hidrocele requerem cirurgia.
- Em 1997, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou a DZçã&Բ;±ᴡ50.29 para a eliminação da filariose linfática como problema de saúde pública.
- Em setembro de 2016, por meio da Resolução CD55.R9, o Conselho Diretor da OPAS aprovou o , que tem como uma de suas metas a eliminação da filariose linfática na Região das Américas até 2022.
- Em maio de 2013, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou a e reafirmou as metas de 2020 para 17 doenças tropicais negligenciadas, entre as quais a filariose linfática.
- A OPAS/OMS colabora com os países endêmicos para obter doações de medicamentos, testes diagnósticos e outros insumos necessários para interromper e eliminar a transmissão. A OPAS também apoia os países no delineamento e na implementação de estudos epidemiológicos de referência e estudos de avaliação de impacto, além de assessorar no planejamento, na implementação e na avaliação das campanhas de tratamento em massa. A OPAS/OMS coordena essas ações por meio do Programa Regional de Doenças Infecciosas Negligenciadas, apoiando os países endêmicos para que obtenham a validação da eliminação da filariose linfática como problema de saúde pública.