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  • saúde mental adolescentes
    Crédito da foto: Lisa F. Young/Shutterstock.com

Saúde mental dos adolescentes

A adolescência (10 a 19 anos) é um momento único, que molda as pessoas para a vida adulta. Enquanto a maioria dos adolescentes tem uma boa saúde mental, múltiplas mudanças físicas, emocionais e sociais, incluindo a exposição à pobreza, abuso ou violência, podem tornar os adolescentes vulneráveis a condições de saúde mental. Promover o bem-estar psicológico e protegê-los de experiências adversas e fatores de risco que possam afetar seu potencial de prosperar não são apenas fundamentais para seu bem-estar, mas também para sua saúde física e mental na vida adulta.

Principais fatos
  • Uma em cada seis pessoas tem entre 10 e 19 anos.
  • As condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos.
  • Metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada.
  • Em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes.
  • O suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.
  • As consequências de não abordar as condições de saúde mental dos adolescentes se estendem à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando futuras oportunidades.
  • A promoção da saúde mental e a prevenção de transtornos são fundamentais para ajudar adolescentes a prosperar.
Determinantes de saúde mental

A adolescência é um período crucial para o desenvolvimento e manutenção de hábitos sociais e emocionais importantes para o bem-estar mental. Estes incluem: a adoção de padrões de sono saudáveis; exercícios regulares; desenvolvimento de enfrentamento, resolução de problemas e habilidades interpessoais; e aprender a administrar emoções. Ambientes de apoio na família, na escola e na comunidade em geral também são importantes.

Múltiplos fatores determinam a saúde mental de um adolescente. Quanto mais expostos aos fatores de risco, maior o potencial impacto na saúde mental de adolescentes. Entre os fatores que contribuem para o estresse durante esse momento da vida, estão o desejo de uma maior autonomia, pressão para se conformar com pares, exploração da identidade sexual e maior acesso e uso de tecnologias.

A influência da mídia e as normas de gênero podem exacerbar a disparidade entre a realidade vivida por um adolescente e suas percepções ou aspirações para o futuro. Outros determinantes importantes para a saúde mental dos adolescentes são a qualidade de vida em casa e suas relações com seus pares. Violência (incluindo pais severos e bullying) e problemas socioeconômicos são reconhecidos riscos à saúde mental. Crianças e adolescentes são especialmente vulneráveis à violência sexual, que tem uma associação clara com a saúde mental prejudicada.

Alguns adolescentes estão em maior risco de problemas de saúde mental devido às suas condições de vida, estigma, discriminação ou exclusão, além de falta de acesso a serviços e apoio de qualidade. Estes incluem adolescentes que vivem em ambientes frágeis e com crises humanitárias; adolescentes com doenças crônicas, transtorno do espectro autista, incapacidade intelectual ou outra condição neurológica; adolescentes grávidas, pais adolescentes ou aqueles em casamentos precoces e/ou forçados; órfãos; e adolescentes que fazem parte de minorias étnicas ou sexuais ou outros grupos discriminados.

Os adolescentes com condições de saúde mental são, por sua vez, particularmente vulneráveis à exclusão social, discriminação, estigma (afetando a prontidão para procurar ajuda), dificuldades no aprendizado, comportamentos de risco, problemas de saúde física e violações dos direitos humanos.

Em todo o mundo, estima-se que 10% a 20% dos adolescentes vivenciem problemas de saúde mental, mas permanecem diagnosticados e tratados de forma inadequada. Sinais de transtornos mentais podem ser negligenciados por uma série de razões, tais como a falta de conhecimento ou conscientização sobre saúde mental entre trabalhadores de saúde ou o estigma que os impede de procurar ajuda.

Os transtornos emocionais geralmente surgem durante a adolescência. Além da depressão ou da ansiedade, os adolescentes com essa condição também podem sentir irritabilidade, frustração ou raiva excessivas. Os sintomas podem se sobrepor em mais de um transtorno, com mudanças rápidas e inesperadas no humor e explosões emocionais. Os adolescentes mais jovens também podem desenvolver sintomas físicos como dor de estômago, dor de cabeça ou náusea.

Em todo o mundo, a depressão é a 9ª causa de doença e incapacidade entre todos os adolescentes, a ansiedade é a 8ª principal causa. Transtornos emocionais podem ser profundamente incapacitantes para o funcionamento de um adolescente, afetando o trabalho e a frequência escolares. A retirada ou a separação de familiares, colegas ou comunidade podem exacerbar o isolamento e a solidão. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio.

Transtornos comportamentais na infância são a 6ª maior causa de carga de doença entre adolescentes. A adolescência pode ser uma época em que regras e limites são testados. No entanto, os transtornos comportamentais na infância representam comportamentos repetidos, graves e não apropriados à idade, como hiperatividade e desatenção (como Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade) ou comportamentos destrutivos ou desafiadores. Os transtornos comportamentais na infância podem afetar a educação dos adolescentes e, às vezes, estão associados ao contato com sistemas judiciais.

Os transtornos alimentares comumente surgem durante a adolescência e a juventude. A maioria afeta mais as mulheres do que os homens. Transtornos alimentares como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica são caracterizados por comportamentos alimentares nocivos, como restrição de calorias ou compulsão alimentar. A anorexia e a bulimia nervosa também incluem uma preocupação com a comida, a forma ou o peso do corpo, além de comportamentos como exercício excessivo ou purgação para compensar a ingestão de calorias. Pessoas com anorexia nervosa têm um baixo peso corporal e um medo maior de ganhar peso. Pessoas com transtorno de compulsão alimentar podem experimentar sentimentos de angústia, culpa ou auto aversão quando comem compulsivamente. Os transtornos alimentares são prejudiciais à saúde e frequentemente coexistem com depressão, ansiedade e/ou abuso de substâncias.

Transtornos que incluem sintomas de psicose surgem mais comumente no final da adolescência ou início da vida adulta. Entre os sintomas da psicose estão alucinações (ouvir ou ver coisas que não existem) ou delírios (incluindo crenças fixas e não precisas). Experiências de psicose podem prejudicar gravemente a capacidade de um adolescente de participar da vida diária e da educação. Em muitos contextos, adolescentes com psicose são altamente estigmatizados e estão em risco de violações dos direitos humanos.

Estima-se que 62 mil adolescentes morreram em 2016 como resultado de autolesão. O suicídio é a 3ª principal causa de morte entre adolescentes mais velhos (15 a 19 anos). Quase 90% de todos os adolescentes do mundo vivem em países de baixa ou média renda; no entanto, mais de 90% dos suicídios acontecem entre adolescentes que moram nesses países.

As tentativas de suicídio podem ser impulsivas ou associadas a um sentimento de desesperança ou solidão. Os fatores de risco para o suicídio são multifacetados, incluindo o uso nocivo do álcool, abuso na infância, estigma que dificulta a busca de ajuda, barreiras para conseguir os cuidados e acesso aos meios. A comunicação em mídias digitais sobre o comportamento suicida é uma preocupação emergente para essa faixa etária.

Muitos comportamentos de risco para a saúde, como uso de substâncias ou risco sexual, começam durante a adolescência. Limitações na capacidade dos adolescentes de planejar e administrar suas emoções, normalização de comportamentos de riscos que têm impacto sobre a saúde entre pares. Fatores contextuais como pobreza e exposição à violência podem aumentar a probabilidade de comportamentos de risco, que podem contribuir negativamente para o bem-estar físico e mental de um adolescente.

O uso nocivo de substâncias como álcool ou outras drogas são as principais preocupações na maioria dos países. Em todo o mundo, a prevalência de episódios de consumo intenso entre adolescentes de 15 a 19 anos foi de 13,6% em 2016, com os homens em maior risco. O uso nocivo de substâncias entre adolescentes aumenta a probabilidade de riscos adicionais, como a prática de sexo inseguro. Por sua vez, o comportamento sexual não seguro aumenta o risco de adolescentes com infecções sexualmente transmissíveis (IST) e gravidez precoce – uma das principais causas de morte de adolescentes e mulheres jovens (inclusive durante o parto e em abortos não seguros).

O uso de tabaco e cannabis são outras preocupações. Em 2016, com base em dados disponibilizados por 130 países, estimou-se que 5,6% dos jovens com 15 e 16 anos já haviam consumido cannabis ao menos uma vez no ano anterior. Muitos fumantes adultos fumam o primeiro cigarro antes dos 18 anos de idade.

A perpetração de violência é um comportamento de risco que pode aumentar a probabilidade de baixa escolaridade, lesão, envolvimento com crime ou morte. A violência interpessoal foi classificada como a segunda principal causa de morte entre adolescentes do sexo masculino em 2016.

Promoção e prevenção

Intervenções para promover a saúde mental dos adolescentes visam fortalecer os fatores de proteção e melhorar as alternativas aos comportamentos de risco. A promoção da saúde mental e do bem-estar ajuda esse grupo a construir resiliência para que possam lidar bem com situações difíceis ou adversidades. Programas de promoção da saúde mental para todos os adolescentes e programas de prevenção em risco dessas condições exigem uma abordagem multinível com plataformas de distribuição variadas – por exemplo, mídias digitais, ambientes de saúde ou assistência social, escolas ou comunidade.

Exemplos de atividades de promoção e prevenção:

  • intervenções psicológicas individuais online, em grupo ou autoguiadas;
  • intervenções focadas na família, como treinamento de habilidades do cuidador, incluindo intervenções que abordam as necessidades dos cuidadores;
  • intervenções nas escolas, como:
    - mudanças organizacionais para um ambiente psicológico seguro e positivo;
    - ensino sobre saúde mental e habilidades para a vida;
    - treinamento de pessoal para a detecção e manejo básico do risco de suicídio; e
    - programas escolares de prevenção para adolescentes vulneráveis a condições de saúde mental;
  • intervenções baseadas na comunidade, como liderança de pares ou programas de orientação;
  • programas de prevenção dirigidos a adolescentes em situação de vulnerabilidade, como aqueles afetados por ambientes humanitários frágeis e grupos minoritários ou discriminados;
  • programas para prevenir e administrar os efeitos da violência sexual em adolescentes;
  • programas multissetoriais de prevenção ao suicídio;
  • intervenções multiníveis para prevenir o abuso de álcool e substâncias;
  • educação sexual integral para ajudar a prevenir comportamentos sexuais de risco; e
  • programas de prevenção à saúde.
Detecção precoce e tratamento

É crucial atender às necessidades de adolescentes com condições de saúde mental definidas. Evitar a institucionalização e a medicalização excessiva, priorizar abordagens não farmacológicas e respeitar os direitos das crianças, de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e outros instrumentos de direitos humanos, são fundamentais para os adolescentes.

Intervenções para adolescentes devem considerar:

  • A importância da detecção precoce e fornecimento de intervenções baseadas em evidências para transtornos mentais e uso de substâncias. O programa de saúde mental da OMS – Mental Health Gap Action Programme (mhGAP) – fornece diretrizes baseadas em evidências para não especialistas, permitindo que identifiquem e apoiem melhor as condições de saúde mental prioritárias em ambientes com poucos recursos.
  • Intervenções diagnósticas – aquelas, por exemplo, que visam múltiplos problemas de saúde mental.
  • Serviços prestados por equipe supervisionada e treinada para o manejo de necessidades específicas de adolescentes.
  • Engajar e capacitar cuidadores, quando apropriado, e explorar as preferências dos adolescentes.
  • Métodos de autoajuda, incluindo intervenções eletrônicas de saúde mental. Devido ao estigma ou à viabilidade de acesso aos serviços, a auto-ajuda não guiada pode ser adequada para adolescentes.
  • A medicação psicotrópica deve ser usada com grande cautela e só deve ser oferecida a adolescentes com condições de saúde mental moderada a grave, quando as intervenções psicossociais se mostrarem ineficazes e quando clinicamente indicado e com consentimento informado. Os tratamentos devem ser realizados sob a supervisão de um especialista e com acompanhamento clínico rigoroso de potenciais efeitos adversos.

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